Caro Sr. Andreas Mölzer,
Depois de hoje ter dormido três horas, porque tenho dois filhos pequenos que ainda me acordam bastantes vezes à noite, de me ter levantado às 6h30 da manhã, de ter vestido o mais velho, depois o mais novo, de ter dado o pequeno-almoço a um, o biberão a outro, de ainda em fato de treino levá-lo à escola, voltar a casa para me vestir enquanto o mais pequeno vai gatinhando e mexendo em tudo o que não deve, fazer três telefonemas, ir a “voar” para o trabalho, passar duas horas numa reunião, almoçar uma sandes porque não consegui ter tempo para mais, escrever não sei quantos textos, fechar a edição, vir para casa a correr para dar banho aos pequenos e dar-lhes o jantar, brincar com os miúdos e pô-los a dormir, enquanto vou respondendo a telefonemas e emails que não consigo evitar, eis que me sento no computador, para trabalhar mais um pouco – sim, no meu segundo e terceiro trabalhos (não sei se sabe o que é ter mais do que um trabalho pasa sustentar a família?!), abro o site do jornal, onde por acaso até trabalho, e deparo-me com uma notícia onde o sr. aparece a dizer que “os portugueses trabalham pouco“. Que vocês, austríacos e alemães, são os únicos que “cumprem horários” e que “começam a trabalhar às nove em vez de às onze“.
Pois bem, Sr. Mölzer, ao ler as suas palavras fiquei indignada. Sim, indignada, uma expressão que agora se utiliza por cá.
Não sei se sabe, Sr. Mölzer, mas aqui em Portugal, de facto, as coisas até podem começar mais tarde, em termos de horários, mas digo-lhe uma coisa…ao contrário de vocês austríacos, e alemães (e sei do que falo porque tenho família alemã e família na Alemanha, duas coisas distintas. Ou seja, conheço a versão portuguesa e alemã) por cá ninguém está a dormir às 18h ou 19h. Muitos ainda estão no trabalho (aqueles que o têm) e não têm hora para sair, outros estão no trânsito a correr para ir buscar os filhos, outros também há que começam por essas horas.
E sabe quanto trazemos para casa Sr. Mölzer? Muito menos do que qualquer um de vós, e temos as mesmas despesas, ou até talvez mais. Por aqui a vida não tem sido fácil nos últimos tempos Sr. Mölzer, mas claro que não sabe o que é ter de, muitas vezes, com menos de 500 euros ter de sustentar uma família. Sim, o ordenado mínimo não chega a 500 euros. Pois, o Sr. Mölzer não sabe o que isso é porque por aí a média ronda os 1600 euros. Sim, eu sei, as coisas são mais caras, mas serão assim tão mais caras que justifiquem a diferença? Experimente vir para cá com 500 euros e tente sustentar uma casa e depois diga-me se conseguiu passar da primeira semana.
Se olhar à volta, no seu país, veja bem quem lhe garante alguns serviços. Quando veste o seu fato, calça os seus sapatos, ou põe o seu cinto, veja bem onde foi fabricado. É que possivelmente, mesmo tendo uma marca qualquer bonita estrangeira, poderá ter sido feito em Portugal, por um daqueles portugueses que você acha que “não trabalham” ou que “só chega às 11h”.
Os portugueses são reconhecidos em todo o mundo por serem bons trabalhadores, competentes e profissionais. Poderia falar-lhe de Ronaldo, Mourinho, António Horta Osório, Domitlía Santos, Carlos Tavares, e outros tantos profissionais nas mais variadas áreas que são verdadeiros embaixadores de Portugal e são os melhores naquilo que fazem, mas não. Falo-lhe do José, do Manuel, do João, da Maria, da Ana, da Joana, de tantos portugueses anónimos que todos os dias procuram superar-se no que fazem, que procuram ser os melhores no seu trabalho.
O Sr. Mölzer tentou ainda humilhar-nos, numa analogia entre altura e pequenez, dizendo que “todos se riem dos alemães e dos austríacos, dos portugueses aos [europeus] do Leste, dos suecos aos sicilianos, não se pode levá-los a sério, porque eles têm todos só um metro e sessenta”. Pois bem, do alto do meu 1,77m (e sem saltos) digo-lhe: Não há povo tão grande, tão grandioso como o português.
Temos facilidade em adpatarmo-nos a outras culturas, línguas, formas de trabalhar. Recebemos no nosso país como poucos. Talvez tratemos até melhor os estrangeiros do que aos nossos próprios conterrâneos, sim, aí reconheço que temos de melhorar na união como povo.
Não lhe vou dar lições de história, porque calculo que tenha aprendido alguma coisa quando estudou história (como vem indicado no seu curriculum) e saiba da nação grandiosa que fomos. Sim, já fomos donos de metade do mundo. E vocês? Sim, descobrimos meio mundo e aventuramo-nos por mares nunca dantes navegados. E vocês?
Ah, é verdade, só para finalizar… fazer horário não significa produtividade. Pode-se produzir muito ou pouco no mesmo horário.
Enquanto portuguesa sei que temos muito de melhorar nesse campo. Mas numa altura em que passamos por uma austeridade sem precedentes, com aumentos de impostos, de preços, cortes de rendimentos, prestações sociais, desemprego elevado, situações sociais dificeis e até fome, vir alguém do alto do seu pedestal europeu, aponta-nos o dedo e dizer que “não trabalhamos”, é algo Sr. Mölzer, que não admitimos.
Isto de falar da “bancada” – uma coisa que até é costume mais nosso do que vosso – sem ter a experiência é muito fácil. Eu até o convidava a vir para Portugal e trocar com qualquer um de nós para saber o que é trabalhar, e trabalhar com alma, coração e sacrifício. Mas sabe Sr. Molzer, não lhe vou oferecer essa possibilidade, sabe porquê? Porque prefiro guardar esse lugar para um português, porque sei que trabalham melhor.
Deixo-lhe aqui um vídeo Sr. Mölzer para que possa ver algumas das coisas que as nossas empresas portuguesas, onde trabalham muitos portugueses, fazem. Acho que não conseguiríamos tais feitos se só entrassemos às 11h e não fizessemos nada. Pense nisso.
Cumprimentos,
Uma orgulhosa Portuguesa!
Obrigada pela sua defesa muito verdadeira tenho um orgulho muito grande em ser POTUGUESA e este orgulho aumentou ao ler as suas palavras .
o nosso governo é que devia dar uma palavrinha a este sr e dizer o que esta amiga acaba de escrever e depois disso manda-lo para aquele sitio
Fiquei muito orgulhosa pela defesa racional de todos nós, e como podemos analisar este tipo de gente que prolifera como lixo nos organismos da europa , faz da europa o que es está a ver. Isto quer dizer que tem de existir uma seleção mais apertada para ser eurodeputado.Portanto alerta máximo para se eleger os eurodeputados.
Mas vocês ainda se ralam com o que diz um velho jarreta nazi?
A criatura nem sequer é digna de receber uma resposta.
Deixem-no falar.
Antigamente costumava-se dizer que Portugal era só uma província de Espanha. Mas a verdade é que a Áustria é que não passa de uma província da Alemanha. Para além disso a Chanceller deles é gorda, sinal de que come muito e se mexe pouco.
Subscrevo na integra e é por existirem portuguesas como a srª que ainda sinto orgulho em sr portugues. o nosso pior defeito é menosprezarmo-nos, menosprezarmos o que é nosso… Grandiosas palavras.
Felizmente a democracia permite que este senhor, fazer declarações deste tipo. Só a minha profunda admiração pela democracia, a minha dignidade pessoal e o respeito que qualquer ser humano merece (parto do pressuposto que esta criatura é humana) me impede de lhe chamar uns nomes muito feios. Lamento, contudo, que esta personagem não sinta na pele e na alma aquilo que o seu regime faria se estivesse no poder e alguém proferisse este tipo de alarvidades sobre o seu povo ou País. Aconselho vivamente Andreas Molzer a não vir a Portugal, pois como os portugueses não trabalham, não vai ter hóteis, nem piscinas nem praias, nem restaurantes para desfrutar o Sol, que não tem, e poder assim descansar do árduo trabalho que produz e/ou gozar a sua reforma.
Para se sentir tranquilo pode sempre trazer uns criados alemães e austríacos bem como uns relógios suíços para andar a horas. Portugal não lhe nega o Sol, com pontualidade e qualidade e nós recebê-lo-emos de braços abertos e sem rancores, mas garanto que também não sofremos de amnésia.