No outro dia estive a jantar em casa de uns amigos e, numa conversa com a filha de uns amigos, apercebi-me que as empresas continuam distantes dos jovens e as dúvidas sobre que curso escolher continuam a atormentar os estudantes.
Aos 13/14 anos os jovens são chamados a fazer a sua primeira escolha que irá influenciar a sua futura carreira profissional: escolher o agrupamento/área. A grande maioria não faz a mais pequena ideia do que quer ser, por isso escolhe a área por influência e aconselhamento dos amigos ou família, pelos resultados dos testes psicotécnicos, por instinto, para fugir a esta ou aquela disciplina, ou até porque têm até ideia de que gostam mais de uma área ou de outra.
Lembro-me de com essa idade já estar decidida sobre o que queria: jornalismo desportivo. E bem que os resultados dos psicotécnicos davam-me economia e gestão, a minha mãe achava que era melhor escolher um agrupamento que desse mais oportunidades mas eu, teimosa, lá fui para humanidades. Erro! (Como se veio a comprovar mais tarde). Não me vou alongar sobre a minha história mas lá quis o destino que fosse parar a jornalismo económico (cheguei a fazer jornalismo desportivo e não tinha ponta de jeito para aquilo, e no final nem gostava) e depois tirei cursos em economia, finanças, etc. Resumindo, os psicotécnicos estavam corretos e eu só me apercebi no 2º ano da faculdade.
A M. é boa aluna e não faz a menor ideia do que quer ser. Aos 17 anos está naquela fase em que diz à mãe que vai seguir farmácia só para a contrariar (normal haver nestas idades este braço de ferro). Foi por isso que a minha amiga pediu que falasse com a filha. E eu discretamente puxei o assunto e a M. lá foi contando os medos, receios, dúvidas e anseios.
As notas facilitam algumas escolhas mas não são suficientes para outras. Mas ela não sabe mesmo o que quer. Apenas sabe que não quer ir para fora. Ora este foi um dado importante. O que a aconselhei a fazer, tendo em conta que quer ficar em Portugal e que gosta de várias coisas, é procurar quais os cursos com mais saídas profissionais, tentar informar-se sobre que profissões têm falta de pessoas (porque as há!).
Ainda recentemente fui moderar um debate sobre as tendências das tecnologias de informação no sector da energia e, numa conversa com os diretores de sistemas de informação da Galp, EDP e REN, percebi que estas empresas precisam de vários técnicos em áreas onde não existem pessoas. E eu perguntei: Mas porque razão não divulgam nas universidades? Porque não comunicam que são precisos recursos em determinados segmentos? É que andam praí jovens nas universidades se calhar a escolher cursos que não têm trabalho e depois temos empresas portuguesas a ter de contratar no estrangeiro porque não formamos cá. Juro que não percebo. (Nestes casos eram analistas de BIG Data para os sectores petrolífero e energético. E seria sempre para ir para fora, mas há outros casos).
Disse à M. que eu, no lugar dela, o que faria era saber quais são as profissões mais procuradas no momento e quais os cursos com mais saída. E ela perguntou-me: “Mas onde há essa informação?” E foi aí que percebi que mesmo os media publicando alguma informação esta não está a chegar a quem interessa: aos jovens. Os pais e as escolas têm aqui um papel determinante, mas também as empresas.
Deveriam organizar-se palestras e conferências – à semelhança do que se faz no mundo universitário – mas ao nível das escolas. Para jovens do 9º ano (que depois têm de escolher o agrupamento) e durante o secundário.
As empresas deviam começar a preocupar-se com os jovens enquanto estes estão na escola, mesmo antes da universidade. É que não só estariam a ajudar os jovens a decidir cursos que têm saída, como conseguiam assim garantir recursos humanos para onde lhes faz falta.
Aos pais aconselho a mostrarem aos filhos as listas dos cursos com mais saídas, visitarem os sites de empresas de recrutamento e verificarem quais as áreas que têm maior procurar, e pedirem na escola para organizarem um evento onde fossem algumas empresas especializadas em recrutamentos, psicólogos, diretores de recursos humanos, etc. Caso contrário, corremos o risco de ter excesso de jovens formados em áreas já sobrelotadas e outras áreas continuarem com falta de oferta.
Fica a dica.