Lisboa voltou a ocupar o palco mediático, a nível mundial, quando na conferência da Apple de apresentação do novo iPhone um dos responsáveis da marca utilizou como exemplo uma foto tirada na capital portuguesa. Ainda houve mais dois exemplos: outra de um retrato de uma mulher, que dá para perceber ter sido tirada no Bairro Alto, e ainda uma garrafa verde, que embora tenham retirado o rótulo da marca percebe-se que é uma Água das Pedras.
Num instante a imagem começou a espalhar-se nas redes sociais e num instante lá começaram as críticas às “parolices tugas” de ficarem excitados com a refência a Lisboa numa conferência de uma marca norte-americana (e que estava a ser acompanhada por milhões de pessoas em todo o mundo). Estas são as mesmas pessoas que ultimamente também andam enjoadas e enojadas por verem tantas fotos e notícias sobre a Madonna que, ao que parece, mudou-se de armas e bagagens para Lisboa.
Ora bem, meus queridos amigos ‘hipsters’, sim, eu sei que não é nada ‘cool’ emparelhar com a carneirada e ficar contente porque há um famoso estrangeiro a olhar para Lisboa e a recomendar como cidade boa para viver, trabalhar ou passear. Sim, depois é uma chatice porque não têm lugar para estacionar perto da Biblioteca Nacional. Porque, claro, são todos demasiado intectuais para se misturar com pessoas, a não ser em concertos e cenas ‘cool’ mas não ‘mainstream’. As redes sociais são apenas para partilhar fotos no Cambodja porque gostam de sítios diferentes e, no fundo, longe da “parolada tuga”. E só de pensarem, por exemplo, em Quarteira no mês de Agosto ficam com falta de ar. Mas calma, essa parte até eu percebo.
A verdade, meus amigos, é que o que me chateia, ou vá, aborrece, é o vosso espírito de ser do contra porque sim, porque querem demonstrar que não andam em rebanhos e têm opiniões diferentes (é um ‘statement’ – estão a gostar dos estrangeirinos, ou isso não é cool?! -) e a vossa falta de memória. Não é preciso andarmos muito atrás no tempo para nos lembrarmos de uma cidade vazia, triste, despida, com empresas e lojas a fecharem por causa da crise que nos atingiu. O número de falências disparava, o desemprego aumentava e a tentativa de colagem das instituições europeias à Grécia, como exemplo negativo, ameaçavam-nos a economia. Portugal, aos olhos da Europa e do Mundo, era o país de uns pobretanas que tinham pedido dinheiro emprestado porque, afogados em dívidas, mal tinham para salário, um tecto ou mesmo comer. (E eu sei bem o que foi porque, enquanto jornalista, acompanhei muitas situações.)
Vocês devem estar esquecidos dos milhares que se viram forçados a emigrar. Devem se ter esquecido de como estávamos. É por isso que “eu, parola me confesso”. Sim, eu fico feliz quando um Garrett McNamara, um dos grandes surfistas mundiais, colocou a Nazaré e Portugal no mapa. Até então eram poucos os portugueses que sabiam o que era o “canhão da Nazaré”. A publicidade que o Garrett fez, simplesmente porque se apaixonou pelo nosso país, foi mais eficaz do que qualquer campanha de marketing e ajudou muito a que a comunidade surfista passasse a olhar para Portugal como mais um roteiro relevante. Desde então temos conquistado muitos eventos.
O mesmo acontece com a Madonna que tem partilhado nas suas redes sociais várias imagens de Lisboa. Só para terem uma ideia a Madonna tem 10 milhões de seguidores no Instagram (ou seja, tantos quanto a população residente em Portugal) e mais de 18 milhões no Facebook. Vocês conseguem perceber o impacto que tem quando a cantora partilha Lisboa aos quatro cantos do mundo?! Não é parolada, meus amigos. Não é ficar contente porque é uma artista estrangeira. É mesmo importante e relevante pela influência que ela tem. Claro que não é necessário fazer uma notícia de cada foto, até porque a rainha da pop tem publicado praticamente todos os dias.
Todas estas referências a Lisboa, ou a Portugal, devem deixar-nos felizes e também atentos. Sim, porque é perfeitamente natural que o turismo continue a aumentar. A questão para mim é apenas uma: estamos preparados? O aeroporto de Lisboa já está a abarrotar e andar pela cidade é cada vez mais complicado. Temos de exigir mais dos nossos governantes. Temos de exigir planeamento. Não basta chamar as pessoas para o país. É preciso criar condições para as receber e viverem em harmonia com os locais.
Devemos exigir responsabilização mas isso não invalida que não fiquemos orgulhosos de ver o nosso país a ser tão querido por tantos, famosos e não famosos. As melhores recomendações são as sinceras e há cada vez mais pessoas a apaixonarem-se por Portugal e, consequentemente, a ajudarem a projetar o país e a própria economia nacional. E não meus amigos, estar no centro das atenções por causa de um famoso estrangeiro não é uma parolada. É bom para o país. E não perceber isso não é ser hipster, é não perceber nada de economia.