A caixinha mágica. Essa maravilha que mudou o nosso tempo (meu, pelo menos). Que me fazia sonhar, conhecer o mundo, numa altura ainda muito longe de se pensar sequer em Internet, quanto mais Youtube, Facebook, etc…
Entre os chutos na bola no recreio, o jogar ao berlinde, à macaca, às corridas de carrinhos, ao elástico, ao mata, ao arco, trocar folhas de cheiro, cromos, ou mesmo saltar ao eixo (agora que penso, tantas brincadeiras que tínhamos… apanhada, piolho, barra,macaquinho do chinês, etc etc etc – Caso se lembrem de mais digam!), era na televisão que descobríamos outras coisas novas.
No outro dia estava o meu filho a ver um dos muitos canais “exclusivos” de desenhos animados, eu chamei-o para jantar e não veio logo porque estava a ver não sei o quê. Foi então que pensei “este miúdo não tem mesmo noção do que era no meu tempo. A esta hora eu nem perdia tempo a ver televisão porque o que dava só interessava aos pais”.
Num exercício de memória percebi que existem um conjunto de situações que os meus filhos nunca saberão o que foi viver, no que diz respeito à relação com a televisão.
Assim sendo, aqui ficam “as coisas que os meus filhos nunca vão saber (ou compreender)” da TV….
1) Que era possível ver televisão a preto e branco. O Mickey tinha várias tonalidades de preto e cinzento até “a caixa mágica” a cores entrar na nossa vida. E era na mesma emocionante!
2) Que houve um tempo em que não havia comandos de televisão. Portanto sempre que queríamos mudar de canal, ou ajustar o volume, tínhamos mesmo de nos levantar e ir ao “televisor” carregar nos botões. Lembro-me bem que o “comando” preferido do meu avô era eu!
3) Que no Inverno (ou simplesmente quando havia muito vento) tínhamos quase de subir ao telhado da casa para ajeitar a antena para o canal não “dar com chuva”. “Está bom assim?”, lembro-me de o meu avô perguntar. E eu respondia: “Sim, não…espera. Há bocado estava bem. Pááááraaaa…não mexas mais! Assim está bom!” Toda uma animação só por causa da antena.
4) Que estavamos nós a ver o Canal 1 e quando começava um novo programa no Canal 2 piscavam duas cruzes no canto superior direito. E assim ficávamos a saber que estava a começar algo novo no outro canal. E o mesmo acontecia ao contrário
5) Que era possível viver com dois canais. Essa coisa de 50, e 100 canais só para quem tinha parabólica.
6) Que a emissão fechava. Sim, fechava! Não havia cá 24 horas por dia a dar coisas na TV. Com direito a hino e tudo. Seguido de “Piiiiiiiiiiiiiiiiii” (e bem irritante que era aquele som) e ficava a imagem que aparece em cima.
7) Havia horário para ver desenhos animados. Nada de canais a darem a toda a hora “bonecos”. Por exemplo: o Agora Escolha, à tarde na RTP 2, com a Vera Roquete (e quantas vezes liguei às escondidas para votar nas “Aventuras do Tom Sawyer” ou “As Aventuras do Bocas”); e ao fim de semana de manhã. Fora disso os pais é que mandavam e nós ou íamos brincar para o quarto ou para a rua.
8) Que os telejornais podiam durar 30 minutos e resumir o essencial.
9) Que ao domingo antes da hora de almoço era um período sagrado: ver Fórmula 1! Sim, ficavamos mesmo ali a ver carros às voltas. Eu ficava a ver o Ayrton Senna (desde que morreu nunca mais vi F1).
10) Que impreterivelmente depois de dar o “Vitinho” era hora de ir para a cama. Não havia mas, nem meio mas. E tenho ideia de ser por volta das 20h30 (alguém que me ajude nesta memória).
11) Que quando apareceu a TV privada parecia que tínhamos entrado numa nova galáxia. Todo um mundo novo. Acordávamos de manhã cedo para ver a emissão a abrir e até cantávamos o hino. Lembro-me lindamente do da SIC, cuja parte final era épica “Não serei eu, mas tu; a tua garra, o teu despertar que vai dar lugar, enfim, à SIC … de todos nós. Não serei eu, nem tu, seremos nós a sua televisão independente…SIC… SIC… SIC….”
12) As televendas afinal podiam ser algo magnífico (agora já não são). Para não fechar a emissão a madrugada era invadida por televendas. E bastava deitar-me um pouco mais tarde para ficar presa a toda uma parafernália de objetos que eu achava serem magníficos, úteis e super necessários (quando na maioria das vezes não o eram). Aquilo eram “coisas que se vendiam na América” (Sim, filhos, essa coisa de dizer ‘States’ é uma maneira ‘cool’ do vosso tempo).
13) Que a família reunia-se toda para ver programas de televisão. Não havia cá cada um no seu quarto. Fosse o 1,2,3… ou mesmo jogar à Casa Cheia. Lembro-me que a revista custava 100 escudos. Havia um concorrente mas também se jogava em casa simultaneamente. Basicamente era um bingo à distância! Uma loucura!
14) Que não dava para parar a emissão. Se queríamos ir à casa de banho ou esperávamos pelo intervalo ou podíamos perder aquela cena magnífica ou mesmo um golo do nosso clube.
15) Gravar programas só era possível mais tarde, e para quem tinha gravador de vídeo (e cassetes disponíveis). Às vezes gravavam-se tantas vezes por cima que se misturavam filmes com desenhos animados, concursos e músicas.
E muito mais haveria por dizer. Lembram deste tempo? E lembram-se de mais coisas? Partilhem!
A malta mais nova que está a ler isto agora deve achar que vivíamos mesmo na Idade da Pedra. Vintage, é o que é. Somos Vintage! 🙂
Claramente não sou “do tempo” da televisão a preto e branco mas lembro-me dos dots 🙂
Era um autocolante que se comprava numa revista – TVmais ou TV7dias – e colocava-se no canto superior direito da televisão quando se via determinado programa (acho que só dava para fazer na SIC, e um dos programas em que se colocava o dot era o Médico de Familia). Supostamente, tinhamos de deixar o autocolante o programa todo e não podíamos mudar de canal!! Depois retirávamos o dot e enviávamos para uma morada para depois ganharmos algum sorteio.
Agora que penso nisso, devia ser uma forma de captar audiência para as pessoas não andarem sempre a trocar de canal.
Quanto a todos os outros pormenores não vivi esse tempo – apenas me recordo que o Cartoon Network acabava às 20h 😛
E em segundos relembrei uma série de coisas da minha infância. Coisas que as gerações atuais nunca hão de compreender…
Oh José,
O que me foi lembrar… tão boas recordações. Era mega fã do MacGyver. E depois do Esquadrão Classe A.
Sim, o Wrestling era ao domingo e também tinha uns favoritos um era 1,2,3 Kid qualquer coisa que não me recordo.
Também me lembro de quando apareceu o “Isto só Vídeo” e passavamos o dia seguinte na escola a contar as peripécias dos vídeos caseiros. No fundo, aquilo era um youtube pré-histórico 😀
Desses não me lembro. Lembro-me era de certos filmes (as famosas bolinhas vermelhas no canto esquerdo do écran ) em que podias comprar uma espécie de autocolante para tapar a bolinha, pois se fosses apanhada a ver um filme com bolinha vermelha e não tivesses 18 anos, podias ter de ir cumprir castigos e a família ter de pagar uma multa de “decência”(e os pais não podiam autorizar…nunca soube de ninguém que tivesse pago algo mas, a lei existiu até finais dos anos 80). Por isso, havia uma revista que vendia uns autocolantes que eram para colar por cima do sítio onde estava a bola e a bola vermelha ficava branca (isto já nas televisões a cores), o que impossibilitava de a criança e a família poderem ser punidas.
Vi o Eduardo Mãos de Tesoura assim… até para os meus avós deu para disfarçar pois não vieram nenhum das cenas que levaram com a bolinha vermelha (que estava branca). Quando surgiram as emissões piratas de televisão ali no inicio dos anos 90, quem queria ver os filme de bola vermelha, era só apontar a antena à procura do sinal. Na margem sul do Tejo existiam 2 a 3 pessoas que fizeram essas emissões durante anos. Toda a gente sabia onde estava a antena… ninguém sabia quem eram as pessoas que levavam o vídeo com a cassete vhs e o ligavam ao emissor e à antena. Muito filme vi com um amigo que morava no 7 andar daquele prédio e a mãe era enfermeira… nos turnos da noite, o pessoal ia para casa dele, após o jantar, para ver aquele tipo de filmes. Nalgumas noites acabava-se a jogar ás cartas pois a emissão não aparecia… e as raparigas também iam ver, nem que fosse só para criticarem, com as amigas, na escola. (se alguém interrogasse, toda a gente estava de acordo, ninguém tinha visto nada daquilo… e a revista que tinha sido encontrada dentro de um saco enfiado no autoclismo tinham lá ido parar por artes mágicas… nenhum dos últimos 100 a passar por lá sabia que a revista existia apesar de saber o conteúdo)
O que me foste lembrar…Macgyver !!! Era certinho. Ás 19:00 horas de Sábado, as ruas ficavam desertas de miúdos. Era o pessoal todo a ir para casa ver o que o engenhocas conseguia fazer de novo.
Ou levantar ás 8 da manhã porque dava um episódio da floresta verde antes de ir para a escola (e a imagem ficava com chuva… lá se perdiam uns segundos). Ou o ver o noticiário e ficar a saber que no dia anterior um avião tinha caído na América . ou que um gajo maluco se tinha atirado da ponte abaixo mas sobreviveu (e o especialista com um farto bigode explicava como teria acontecido).
Os Jogos sem Fronteiras… com o Eládio . Tanto jogo que se inventava para jogar na rua a tentar imitar aquele jogos…
Quando a RTP começou a dar o wrestling (creio que era ao domingo antes do almoço) americano, durante a tarde andávamos a testar os golpes… estranhamente nunca ninguém se aleijava (ou a lesão era rápida de curar).
Já com a televisão privada, em 1995 existiu um dia em que muita gente se agarrou à televisão para ver um episódio do DragonBall (um em que o careca pequeno explodia e o personagem principal ficava de cabelos louros), onde até as escolas ficaram com mais gente nas salas onde existia televisão… que nas salas de aula. (e o pessoal a ir para a sala, após o final do episódio, a tentar justificar chegarem a meio da aula. Tive sorte que a minha turma tinha ficado toda a ver, até a professora veio ver e levou-nos para a sala onde tivemos de estar até ao final do intervalo seguinte para ter a aula completa… isto numa turma de 11 ano.) No dia a seguir, os noticiários da SIC abriram com a notícia de que aqueles 20 minutos tinham batido o recorde da telenovela da noite, de muito longe, o episódio de desenho animados com mais audiência de sempre na televisão (repetiram o episódio todos os dias da semana…)
O Era uma vez o Espaço a dar e o pessoal a comer bolos de chocolate (não me lembro do nome) como se estivéssemos esfomeados, porque, algures dentro do bolo, vinham bonecos de plástico sobre a série e as pessoas queriam eram as naves e o robot. Quando se encontravam os bonecos, ficavam tristes por não serem aqueles que mais queriam (e os bonecos eram todos das mesmas cores… azul, vermelho e amarelo)
Bons tempos.
E depois quando chegávamos perto melhorava o sinal e quando nos afastávamos piorava. Ou seja, uma pessoa parecia que tinha de ficar ali a fazer companhia à antena para servir de “condutor” de sinal 😉
Muita antena rodei eu para ver se não apanhava chuva 🙂
É verdade, Joana Ribeiro. Quando aparecia o símbolo tínhamos de colar no ecrã. Também já não me recordo bem o propósito 🙂
…e, “mais recentemente”, os dot? já não me lembro bem da sua utilidade mas que existiram… existiram. Colavam-se na televisão – canto superior direito, creio!!