Gratidão! Esta é uma palavra que tem vindo a ocupar cada vez mais espaço na minha vida. Por vezes esquecemo-nos de ser gratos. Gratos pelo que temos, gratos por tantas coisas que damos por garantidas, gratos pelas pessoas que nos rodeiam. Passamos muito tempo a queixarmo-nos: do tempo, do trânsito, daquela pessoa que nos aborrece no trabalho, daquela amiga que não nos retorna o telefonema, do dinheiro que não estica, de tantas e tantas coisas. Muitas delas até temos motivos para o fazer, mas no meio do que nos falta, do que não temos, esquecemo-nos de agradecer o que temos.
Recentemente, tive o privilégio de estar num jantar que me fez novamente recentrar-me na gratidão, que às vezes também me escapa por entre os dedos. Quis a vida que o Rafael se cruzasse no meu caminho. Do campo profissional nasceu uma amizade e uma admiração por este Homem de uma humildade e de humanidade do tamanho do mundo. Sou grata ao Rafael pela amizade, sou-lhe grata pela experiência que me fez vivenciar no seu aniversário.
Para comemorar o aniversário o Rafael decidiu juntar os amigos num jantar. Até aqui tudo normal. Mas este jantar tinha uma particularidade. Em vez de irmos todos comer, beber e divertir-nos a brindar ao Rafael, enquanto o enchiamos de presentes, o Rafael pediu-nos apenas que dessemos um pouco do nosso tempo e que, todos juntos, fossemos ser voluntários por uma noite. Fomos servir o jantar a quem pouco ou nada tem. Fomos fazer parte do projeto “Serve the City“.
Confesso que não conhecia o projeto mas rapidamente fiquei encantada. Basicamente, de 15 em 15 dias o refeitório do Técnico serve de casa para um jantar solidário (que é oferecido por uma entidade, empresa, ou particular) para pessoas sem abrigo, com carências económicas ou que vivem em condições limite. Além de oferecer o jantar, ou seja, muito mais do que simplesmente dar, os “patrocinadores” são convidados a participarem, a envolverem-se como voluntários. E assim foi. Nós, os amigos do Rafael, fomos dar um pouco de nós aos outros no aniversário dele. Este alto de altruísmo deixou-me verdadeiramente comovida.
Fomos organizados em equipas. Uns ficaram a servir às mesas, outros a limpar loiça, outros a servirem as bebidas. Todos os voluntários tinham uma função. Depois de termos posto a mesa quando comecei a ver as pessoas a entrarem para se sentarem olhei atentamente para cada rosto. Cada uma daquelas pessoas tem uma história. Algumas até já tiveram se calhar vidas melhores, mas ali estavam, algumas até com crianças, para uma refeição um pouco melhor. O meu coração foi ficando apertado à medida que as pessoas iam entrando. Senti-me pequenina, senti um aperto no peito. Senti que tenho a obrigação de ser grata e que, de facto, não precisamos de tantas coisas que nos rodeiam. Recompus-me emocionalmente, assumi o meu papel e com todo o meu amor, coração e dedicação servi com orgulho as minhas duas mesas que me tinham calhado. Ouvi as histórias, partilhei sorrisos e fiz quilómetros entre a cozinha e a sala. No final da noite estava fisicamente cansada, mas de alma cheia. Obrigada Rafael pela amizade e por me dares a conhecer este projeto tão nobre. Eu sei que foi só uma noite, eu sei que é apenas uma migalha. Mas se todos fizermos e dermos um pouco mais de nós, que mais não seja do nosso tempo, o fardo é mais leve para quem não pode. E garanto-vos, não há melhor presente do que dar!
Podem saber mais sobre o projeto “Serve the City” no site.