O Governo quer dar benefícios fiscais a quem recuperar casas para arrendar por valores acessíveis à classe media. Segundo o Diário Económico, o Governo assume a reabilitação urbana e a dinamização do mercado de arrendamento como prioritárias.
A notícia parece ser óptima. Não só porque o mercado de arrendamento tem de ser dinamizado, como também é preciso dar nova cara a tantos edifícios abandonados e degradados nas cidades. No entanto, tenho algumas dúvidas.
Será necessário conhecer os detalhes, até porque há sempre dois pontos neste negócio. A perspetiva do proprietário – que pretende sempre ter o melhor investimento, ou seja, a renda mais elevada que conseguir -, e a perspetiva do arrendatário – que pretende ter o melhor imóvel ao preço mais baixo possível. E neste momento, tendo em conta a oferta e procura, o incentivo ao arrendamento perde para a compra de casa.
Para garantir que as rendas não sobem, só impondo um limite à renda que pode ser cobrada. O que pode ser um desincentivo ao proprietário. É que embora tenha reduções ou isenções de taxas, caso não consiga cobrar a renda que acha ser compatível com o que considera que o mercado vale – até por comparação na mesma zona a quem tem propriedades já arrendadas – pode não ser um negócio interessante.
Do ponto de vista do arrendatário apenas teremos o regresso das pessoas da classe média às cidades caso se pratiquem preços que as pessoas consigam pagar.
É que avaliar pelo que vejo em Lisboa (e bem sei que a localização paga-se sempre), corre-se o risco de se reabilitar para depois se transformar em imóveis de luxo e arrendar, ou vender, apenas a um grupo restrito de pessoas, e não à classe média. E assim ficam os centros cheios de imóveis de luxo a paredes meias com casas a cair aos pedaços. Vamos esperar para ver.